Brasil precisa de vacina própria para prevenir o HPV

07/09/2011

O geneticista Willy Beçak, pesquisador do Instituto Butantan, afirma que produzir vacina contra o HPV (vírus do papiloma humano, na sigla em inglês) no Brasil não é importante apenas pela redução de custos ou questão estratégica do domínio da tecnologia, pois as importadas têm efeitos limitados em pacientes brasileiros. O HPV tem diversos subtipos e alguns deles podem provocar tumores. O vírus é sexualmente transmissível e o câncer mais associado é o de colo do útero (mas também há registro de câncer no pênis, ânus e garganta, gerados pelo vírus). A principal vacina disponível atualmente protege contra dois tipos de HPV: o 16 e o 18. “Isso é válido para os Estados Unidos, onde foi desenvolvida [vacina], sendo válido para outros lugares como o sudeste do Brasil. Mas, quando se faz esse levantamento em outros lugares como, por exemplo, em Pernambuco, o tipo prevalente é o 16; e depois vêm outros: o 33 e o 31. Então a vacina não protege contra esses tipos”, alerta o geneticista. “Até a vacinação da população lá seria prejudicial. Se você vacinar, protege contra o 16 e aumenta a probabilidade de o 31 se espalhar”, completa o pesquisador, que também afirma que uma vacina ineficaz dá falsa sensação de segurança – o que também é prejudicial. Além dessas constatações, a dose da vacina importada custa cerca de R$ 400, sendo necessárias três doses para que tenha eficácia no organismo. Ainda o alto custo é mais um incentivo para que o Brasil chegue à fórmula com tecnologia própria, feita em instituições públicas. Tendo os argumentos em vista, o pesquisador e sua equipe, do Instituto Butantan, estão desenvolvendo a vacina nacional. A ideia é usar um componente na sequência de DNA que existe em todas as variantes do vírus – o que tornaria a vacina eficaz contra todos os subtipos, resolvendo o problema detectado em Pernambuco. Beçak estima que o medicamento possa ficar disponível em aproximadamente oito anos. A espera parece longa, mas é justificada pelas exigências da Organização Mundial da Saúde, já que antes de ser lançada, uma vacina precisa passar por uma bateria de testes que comprovem sua eficácia e segurança. GADO Os mesmos pesquisadores já estão testando uma vacina contra o BPV, a versão bovina do vírus. Como as exigências para a vacinação animal não são tão restritivas quanto na imunização de humanos, os bois podem servir como cobaias para que a vacina brasileira contra o HPV fique pronta mais rapidamente. O BPV afeta o gado bovino em diversos aspectos e, entre ele, o vírus se transmite não apenas pelo sexo, mas pelo sangue – o que pode ocorrer inclusive durante a vacinação contra a febre aftosa, quando as seringas são compartilhadas. No entanto, Beçak ressalta que esse não é o ponto mais importante. “A vacina tem, primeiro, interesse econômico para o país, pois irá melhorar o desempenho do gado”, afirma o cientista, lembrando que o Brasil é o maior exportador de carne bovina.
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