Pacientes brasileiras com próteses de silicone nas mamas serão monitoradas
11/01/2012
Pacientes que possuem próteses de silicone nas mamas serão rastreados pela Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica (SBCP) já a partir deste mês. A entidade desenvolveu o chamado Cadastro Nacional de Implantes Mamários, que receberá dados dos cinco mil cirurgiões plásticos associados da SBCP – eles estão recebendo senhas para acessar o banco de dados.
A medida se torna necessária após a polêmica com o material usado para próteses mamárias da marca Poly Implant Prothèse (PIP), francesa, ocorrida em março de 2010, quando irregularidades na produção do produto foram detectadas pela agência sanitária da França. O resultado foi a falência da empresa, fundada em 1991, no sul daquele país.
O banco de dados no Brasil terá informações sobre os cirurgiões, pacientes e números de série e lote e marca das próteses usadas. “Nesse programa serão cadastrados os pacientes, cujas identidades serão mantidas em sigilo, o que é obrigação dos médicos. Os cirurgiões serão identificados por um número e terão uma senha. Isso vai estimular a informação, pois um médico não saberá dados do outro, nem sobre o paciente dele, mas terá acesso às informações gerais”, informe Wanda Elizabeth Correa, Presidente da Comissão de Silicone da SBCP.
Será possível detectar o Estado, a cidade, o médico que fez o implante, o motivo da cirurgia e, em caso, de troca, a razão para tal. “Não haverá obrigatoriedade para o cirurgião abastecer esse banco de dados, mas há uma necessidade pela informação”, continua.
Wanda afirma ainda que o cadastro teria sido uma ferramenta eficaz de prevenção quando ocorreram casos de infecções nas pacientes com prótese mamária na cidade de Campinas, no interior de São Paulo, em 2004. “Os médicos podiam rastrear todas as próteses na época, saber onde estariam implantadas e quem seria o cirurgião responsável. O mesmo poderia já estar sendo feito após esse problema da PIP”.
INFORMAÇÕES AOS PACIENTES
De acordo com a Presidente da Comissão de Silicone da SBCP, “trata-se de um banco de dados onde será informado tudo. Diante de um escândalo como esse da PIP, a única coisa que podemos fazer é chamar o paciente ao consultório. Essa relação será sempre entre o médico e o paciente. O sigilo do paciente, mais uma vez, será garantido e, com esse cadastro, a SBCP terá como saber em qual cidade estaria a prótese, quantos implantes, e assim ajudar a Anvisa e o Ministério da Saúde a agir”.
A médica informa também que os pacientes que fazem implante de silicone, em regra, não sabem qual a prótese que têm no corpo – embora devessem saber.
“É uma relação de confiança entre o médico e o paciente, quando o profissional tem de informar ao paciente a marca, o lote e a série de cada prótese que será implantada. O paciente não pode ser tão ingênuo – sem bem que diante de um escândalo como esse ser difícil de falar assim, e questionar, estudar sobre a prótese antes da cirurgia. Porém, nesse caso da PIP, até o médico também é vítima”, fala Wanda.
De acordo com a Sociedade Brasileira de Cirurgia Plástica, as próteses mamárias que são trocadas dos pacientes não passam por avaliação técnica e preventiva antes do descarte. “Isso, infelizmente, não é feito no país. A validade de cada uma das próteses, em média, é de dez anos. Hoje, depois que duas marcas saíram do mercado em 2010, temos 14 firmas comercializando próteses de silicone no Brasil”, afirma. – A ação apenas é realizada, conforme a SBCP, nos Estados Unidos e na Europa.
No Brasil, conforme a Anvisa, 25 mil unidades de silicone PIP foram vendidas. Ainda, na última semana, a Agência admitiu que recebeu queixas de brasileiras contra as próteses. Outras informações sobre o tema podem ser conferidas no site da Anvisa, no portal.anvisa.gov.br.
O DONO DA PIP
O fundador da empresa, Jean-Claude Mas, admitiu que produziu um gel de silicone adulterado, derivado de uma fórmula própria, sem homologação do órgão certificador.
“Sabia que esse gel não tinha sido aprovado, mas o usei mesmo assim porque o gel PIP era mais barato e de uma qualidade muito melhor”, falou em depoimento prestado em outubro passado, segundo a transcrição do interrogatório a AFP.
Ele disse ainda que passou a usar uma fórmula própria de gel em lugar de silicone médico em 1993, dois anos depois da criação da empresa PIP. No entanto, Mas destacou que suas próteses, suspeitas de provocar câncer, não representavam “nenhum risco para a saúde”.
Ele é alvo na França de duas investigações judiciais por “falsificação agravada” e “lesão corporal e homicídio culposos”. O escândalo por causa dos implantes mamários defeituosos, que afeta milhares de mulheres em vários países, se intensificou na última semana, depois de revelações de que as próteses mamárias continham um aditivo para combustíveis, em uma mistura de produtos comprados de grandes grupos da química industrial que nunca foram objeto de testes clínicos quanto eventual nocividade para o organismo humano.