A cirurgia de remoção da próstata é mais eficaz do que se pensava nos casos em que o câncer reaparece no órgão. A chamada “cirurgia de resgate” se oferece cada vez mais como uma cura para os pacientes em que a radioterapia não acabou com a doença. A afirmação é de um estudo liderado pelo urologista brasileiro Daher Chade, do Memorial Sloan-Kettering Cancer Center de Nova York (EUA), que contou com a participação de acadêmicos de todo o mundo, inclusive da Universidade de São Paulo (USP). A pesquisa apresentada na última semana, no congresso da Associação Europeia de Urologia, na França, foi uma compilação de diversas pesquisas anteriores – conhecida pelos cientistas como metanálise. Tradicionalmente há duas formas de tratar o câncer de próstata, quando é diagnosticado no início, ainda localizado: radioterapia e cirurgia – que é a remoção total da próstata, das vesículas seminais e dos gânglios. Essa cirurgia pode ser feita com acesso aberto, com ajuda de uma câmera (laparoscopia) ou com um braço robótico. Os dois últimos métodos têm uma recuperação mais fácil, pois são menos invasivos, mas as três técnicas não têm diferença do ponto de vista do efeito sobre o câncer. Se o tumor ainda não tiver atingido outros órgãos, a cirurgia elimina o câncer, porém, metade dos pacientes que passa pela cirurgia sofre com a impotência sexual e 15% têm incontinência urinária. Por isso muitos pacientes optam pela radioterapia. O tratamento com raios X não implica a retirada da próstata e, assim, não oferece tantos efeitos colaterais. Porém, nem sempre o tumor é completamente removido. O foco da pesquisa liderada por Chade foi esse tipo de câncer reincidente: “Quando isso acontece, os médicos vinham o considerando incurável”, afirma. A quimioterapia, conforme o urologista, é “paliativa”, já que não resolve o problema, apenas controla a doença por mais tempo. Além disso, o paciente precisa fazer tratamento hormonal, cujos efeitos colaterais sobre a potência sexual são até mais fortes que os da cirurgia. O estudo comprovou, portanto, que a cirurgia de remoção funciona como uma cura também nesses casos em que o câncer ressurge (desde que localizado) – e não só no primeiro surgimento do tumor. “A técnica não é nova, o que é novidade é a aplicação da cirurgia nesses casos”, fala o pesquisador. De acordo com ele, praticamente 100% dos pacientes que tentavam a cirurgia nesses casos sofriam de impotência e incontinência. “Hoje descobrimos 50% de impotência e 15% de incontinência. São dados parecidos com os da primeira cirurgia”, aponta Chade, que continua: “A grande novidade, que ninguém tinha juntado os dados ainda, é a respeito das complicações”. Na visão do urologista, a pesquisa traz mais uma opção de tratamento para um caso que era visto com pouca esperança no meio. “Agora depende de, no dia-a-dia, os médicos aplicarem o que foi descoberto”, termina.