Estudo relaciona fertilização in vitro em mulheres mais velhas a maior risco de doença
06/07/2011
Medicamentos usados em tratamentos de fertilização in vitro (FIV) em mulheres mais velhas podem aumentar os riscos de bebês com Síndrome de Down, dizem especialistas. Os profissionais já sabem que os riscos de uma mulher ter um filho com a condição aumentam em proporção direta à idade da mãe, especialmente a partir dos 35 anos de idade.
Após um estudo pequeno envolvendo 34 casais, pesquisadores da Grã-Bretanha e da Alemanha falam suspeitar que determinadas drogas usadas para estimular os ovários na FIV em mulheres mais velhas afetem o material genético dentro dos óvulos. O estudo foi apresentado durante uma conferência da European Society of Human Reproduction and Embryology em Estocolmo, na Suécia.
A equipe, do London Bridge Fertility, Gynaecology and Genetics Centre, de Londres, Inglaterra, e da Universidade de Bonn, da Alemanha afirma, no entanto, que serão necessárias mais investigações para confirmar tal hipótese. Os pesquisadores dizem ainda não saber ao certo qual seria a magnitude do risco, mas acreditam que os remédios podem estar associados a outras anomalias genéticas.
A Síndrome de Down, também conhecida como Trissomia 21, é um distúrbio genético resultante da presença de três cópias do cromossomo 21 em vez de duas. Toda célula de um indivíduo com a condição contém 47 cromossomos em vez de 46. A condição é caracterizada por problemas de desenvolvimento mental e físico.
A PESQUISA
Os 34 casais participantes haviam recorrido à técnica mais comum de reprodução assistida, a FIV. Todas as mulheres do grupo tinham mais de 31 anos e tomaram remédios que estimulam os ovários a liberar óvulos para a FIV.
Mas, ao analisar os óvulos já fertilizados, os cientistas verificaram que alguns deles apresentavam erros genéticos. As anomalias encontradas poderiam resultar no fim da gravidez (por aborto natural) ou em nascimentos de bebês com distúrbios genéticos.
Ainda, uma análise mais detalhada de 100 dos ovos que continham anomalias revelou que a maioria dos erros genéticos envolviam duplicações de cromossomos. – Frequentemente o erro resultou em uma cópia extra do cromossomo 21.
No entanto, os pesquisadores encontraram nos ovos fertilizados in vitro padrões de erros genéticos diferentes e mais complexos – daqueles encontrados em casos clássicos de Síndrome de Down observados em bebês de mães mais velhas que engravidam naturalmente. O fato levou os especialistas a suspeitar que o tratamento de FIV seria o responsável.
“Isso pode ser um indício de que a estimulação dos ovários estaria provocando alguns dos erros”, comenta Alan Handyside, chefe do estudo e diretor do London Bridge Fertility, Gynaecology and Genetics Centre.
“Já sabemos que esses remédios de fertilidade podem ter um efeito similar em estudos de laboratório. Mas precisamos trabalhar mais para confirmar nossas descobertas. Então se mais testes confirmarem a hipótese da equipe, pode ser que médicos sejam mais cuidadosos ao recomendar esse tipo de tratamento”, completa.
O grupo disse esperar que seu estudo possa também ajudar a identificar que mulheres se beneficiariam mais de técnicas de reprodução assistida que utilizam ovos doados em vez da FIV.
“O estudo já é um grande passo para ajudar casais que têm esperanças de uma gravidez e nascimento saudáveis a alcançar”, continua outro cientista envolvido no estudo, Joep Geraedts, da Universidade de Bonn.
REPERCUSSÃO
“Há um grande aumento no número de mulheres com idade mais avançada se submetendo aos tratamentos por FIV e, anteriormente, achávamos que essas anomalias nos cromossomos estavam associadas à idade do ovo”, comenta sobre o estudo o especialista britânico em fertilidade Stuart Lavery, médico do Queen Charlotte’s Hospital, em Londres.
“O que esse trabalho mostra é que muitas das anomalias não são aquelas convencionalmente associadas à idade. [O estudo] aumenta a preocupação de que algumas das anomalias estejam relacionadas ao tratamento”, completa.